Eu sofri a vida toda com o meu analfabetismo funcional, mesmo
sendo considerada por pessoas em meus meios de convivência uma pessoa
inteligente. Sim, é um adjetivo muito usado para mim e que eu não entendia, pois
era algo natural, mas que não condizia com muita coisa do que eu entendia como
reflexo de inteligência. Eu não tinha coragem de pensar por mim mesma, fui
ensinada a pensar através de referências e minha fala só pode ser aceita se for
embasada em alguém que foi aceito previamente. Eis a minha realidade, atrelada
a condição de mulher vítima de abusos e com diversos problemas para serem resolvidos, e que segundo a minha sociedade eu deveria superar pois “nada é tão
mau que não tenha algo de bom, ou vice e versa”, tentei me convencer disso a
vida toda, até aqui, agora eu ignoro, pois há coisas que são apenas manipulação
e que nos servem para amansar, ou uma palavra que gosto muito e que ainda estou
trabalhando seu conceito: docilizar.
Fui docilizada como mulher, fui docilizada como filha, fui
docilizada como estudante do ensino fundamental e médio, porém, mesmo que pela força
da cultura que me permeia eu tenha sido docilizada, também tive oportunidades
que muitas pessoas me trouxeram, como a Professora Hilda e a Professora Solange,
minha amada Madrinha Maria e amigos diversos que não vou citar para
resguardá-los.
Eu tive acesso a leitura através de biblioteca, eu tive
acesso a faculdade através do FIES, graças a minha inteligência e docilidade eu
pude seguir alguns caminhos com um sofrimento que foi amainado e escondido e
que explodiu na minha maior estabilidade da vida: carreira e casamento
encaminhados, hobbies e retomadas de dons, tudo parecia perfeito, mas os abusos
continuavam e eu estava mudada, eu começava a reconhecer, eu passei a
pesquisar, começou a surgir informação de fácil acesso, eu me desconstruí,
entendi que uma mulher não é obrigada a nada, por ser mulher. Entendi que eu
não tinha culpa nas culpas que pregavam em minha cruz, até perceber que não
preciso estar na cruz. Isso é bem atual. Ainda estou com muitos estigmas, mas
... por Cristo, hei se superá-lo e sem repetição de estratégia de manipulação
de massa que me faça docilizar, farei por consciência e força própria.
Aprender a me comunicar foi extremamente importante, pois
mesmo formada em Letras, como escritora, voltando a desenhar e me envolver em
meios diversos de comunicação, o ato de me comunicar com o outro de maneira
além da unilateral passou a acontecer quando exigi que me escutassem, e eu exigi
que eu me escutasse.
Primeiramente gostaria de dizer que estou muito melhor,
aprendi que meios de denuncia devem ser respeitados e que a minha linha do
tempo do Facebook não mudará em nada a vida de outra pessoa com
compartilhamento de ódio e violência, mesmo que tenha intenção de denúncia.
Peço desculpas a todos por, itens compartilhados e posts assim. Ver animais
sendo arremessados ao rio ainda em fase de amamentação, esfolados, agredidos e
etc, isso tudo me maltratava muito, e eu fui obrigada a ver até saber que eu
podia selecionar e deixar de seguir pessoas que não sabem lidar com esse tipo
de informação, que serve para distrair, dando pão e circo para o povo.
Depois passei a bloquear as pessoas que lidavam mal com minhas
publicações de empoderamento feminino, mesmo que fosse meio agressivas, visto
que eu precisava ainda superar a fase da revolta. Isso foi muito importante, e
não me afastou das pessoas que bloqueei, pois a amizade não tinha nada a ver
com uma má interpretação e por estas pessoas estarem tão acostumadas ao
discurso de ódio que nem mesmo pensavam antes de reagir e transmitir uma ideia
formada por outras pessoas.
Agora estou em nova fase de desconstrução, estou mais feliz
comigo e com a minha nova capacidade de ver o mundo, tenho muito a mudar, mas
isso não me deixa infeliz, e sim me mostra um skethbook cheio de páginas em
branco com possibilidades amplas e realizável, possível mesmo.
Quando conheço uma pessoa machista, violenta e que reproduz conhecimento
de senso comum ou vai por este viés eu não sinto ódio, eu reflito e vejo o que
posso fazer por elas, pois eu fui assim. Compartilho muita coisa sobre o
feminismo ainda e vou continuar, não sou ativista quem dera, mas este ainda não
é meu perfil, porém compartilhar informações e relatos para desenvolver identidade
e dar maior acesso a novas pesquisas me faz sentir bem, pois pelo caminho do intermetes
e da literatura pude me desacorrentar e sair da caverna, enxergar você na sua
fase e semear o que eu tenho de bom na nossa amizade para fazer a diferença.
Daqui a cinco anos seremos um jardim diferente, eu terei
muitas mudas, e não preciso me apegar a humildade forçada para fingir que não,
pois eu me orgulho disso, eu me reconheço, eu acredito em mim, eu naõ me coloco
mais em dúvida diante do discurso alheio. Eu ccheguei mais longe do que podia
imaginar, me encaminho para o infinito e além.
Parem de compartilhar regras sociais que denigram a imagem
da mulher, do negro/a e do homossexual/bissexual/trans, não compartilhem
violência em vídeos ou fotos, se houver algo assim que vc possa denunciar, há órgãos
responsáveis, instituições e ongs que farão melhor uso do material que o que a
sua Time Line poderá fazer sozinha. Compartilhe informação e regras que sejam
boas, não fale mal da menina que traiu o namorado e apanhou e morreu e foi
estuprada, não fale mal do cara que é gordo e não consegue emagrecer, não faça
piadas, não apoie a disseminação de violência naturalizada para que se perpetue.
PORNOGRAFIA é violência, menor de idade tem censura sim,
menina nova não é mulher que “quer”, a minha roupa não te autoriza a me julgar,
nem meu peso, nem nada. Reflita. Restrinja, bloqueie se necessário, mas não
apoie manobra de manipulação de massa com sistema de ódio que não leva a nada,
se precisa denunciar, faça direito. SE precisa informar, faça direito. Eu te
apoio.
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