quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ser Humano é agir em grupo?



Por Laura Lucy Dias

   Primeiramente, gostaria de contextualizar esse texto: sete de novembro de dois mil e doze, Palácio das confederações, Anhembi, São Paulo, Capital. Evento: vigésimo terceiro congresso do SIMPEEM. O que isso significa?
    R: 95% de professores, sendo deles 80% regentes  20% de coordenadores, diretores de escola e supervisores escolares. Os outros 5% tem como representantes os ATES (pessoas que exercem outras funções dentro da escola/educação).
   Contextualizados? Caso não esteja, tudo bem, a minha análise aplica-se a outros contextos também.
   Ontem, no Painel, tivemos uma palestrante que falou sobre neurociência e desenvolvimento da aprendizagem nas diversas fazes da vida, pensando em maturação (maturidade física e psicológica para o desenvolvimento de certas habilidades e capacidades de aprender coisas). Aos quarenta anos começamos o processo de perda de neurônios, de maneira natural, conforme a palestrante. Mas o que me faz escrever é a afirmação feita por ela:
                   “O ser humano se constitui a partir da interação com o outro”
   Agora vou falar de maneira leiga, apenas utilizando as minhas impressões pessoais e conhecimento de cunho crítico e de senso comum. Sinto-me estranha justificando-me antes de falar, mas quero pôr – me como uma narradora em terceira pessoa e intrusa, como se fosse onipresente, só por ser a que detém a sua atenção e nada mais.
Pensando na afirmação, podemos dizer que se eu nasço em um ambiente que seja como o dos mórmons, e eles estão completamente desconectados das leis e tecnologias do mundo à sua volta – como naquele filme “A Vila”- completamente alheios e desconhecendo-o por gerações, a ponto de que conseguiram essa individualidade de grupo para seus descendentes, eu terei o conceito de humanidade da interação que eu vier a ter dentro desse grupo.
   Digamos que oito gerações depois daquela apresentada no filme, sem seus anciãos iniciais e os que tiveram contato com suas histórias e relações com o mundo exterior.
   Eu não conheceria a internet, estradas asfaltadas, instituições como bancos, etc. Ao ser exposta à esta outra realidade, eu interagiria e seria capaz de tornar-me este tipo de humana? Seria um híbrido de formação mista?
   Opto pela hipótese do híbrido. Nesta eu manteria as características humanas e sociais originais e agregaria as outras em uma acomodação da nova experiência e da forma que eu vier a me relacionar com ela.
   Ok... se eu posso fazer tudo isso eu sou humana, pois ajo em grupo. Deixemos claro que eu não faço parte desse mundo científico e é só uma reflexão de uma leiga que quer criticar a maneira como se dá a socialização.
Vejamos os macacos, os cães, os lobos, os peixes... todos vivem em grupo e agem em grupo. Não vejo diferença neles do que o que acabei de descrever aqui. Se eu pego um macaco e insiro-o em outro grupo, ele irá trabalhar para se integrar agindo em grupo e podendo se adequar à sua nova situação. Nada diferente de mórmons para hi tech.
Pois bem, se nós aprendemos com o outro, aprendemos desde criança, e Vygotsky e Piaget já falaram de aprender através do meio, de dentro para fora e tal. Isso acontece com cada espécie dentro das suas condições de evolução.
Você pensa que falar para o seu filho não atravessar fora da faixa, olhar para os lados quando atravessar a rua, não mentir, etc, vai educá-lo e ensinar algo que ele possa praticar na sociedade em que se insere?
   Esqueça-se disso. Nem depois dos quarenta adianta, nós aprendemos como os macacos, os cães e tudo mais. Só para você ter uma ideia, minha cadelinha de quatro meses vê-me aplicar hidratante labial constantemente, devido a problemas de ressecamento que eu sofro, e ela observava-me e eu não percebi. Um dia ela conseguiu pegar e comer o meu hidratante labial. Apesar de irada, procurei saber o motivo do interesse e passei a observar seu comportamento, ela seguia meus movimentos com o olhar e percebia o que eu fazia com o objeto e onde eu o colocava e depois ia para a empreitada de tentar adquirir o objeto.
   Tudo isso revela a necessidade de ela adquirir o comportamento daquele com quem ela disputa a liderança da matilha. Ela precisa se apoderar das coisas que importam, e eu estou sempre com o objeto ali, junto a mim. Ela observa e aprende o que o grupo faz e procura seguir modelos para conseguir a posição que lhe seja mais almejada, como a de líder da matilha humana que é a minha família.
   É nesse ponto que eu quero discursar. Aprendemos mais com atitudes que com palavras. Identificamos os líderes da nossa sociedade e procuramos reproduzir o modelo de comportamento daqueles que aspiramos ser, ou substituir. Nossas crianças e nossos quarentões são frutos do grupo e se tornam humanos por isso?
Neurocientificamente sim, segundo a palestrante. Mas filosoficamente... complexo. A partir do momento em que aprendemos como animais e vivemos como seres humanos racionais, mas passamos o farol vermelho e criticamos, recomendamos ou até punimos o outro que também o faz, qual será a vantagem de ser humano?
   Carros de polícia que passam farol vermelho, políticos que roubam, traficantes que se tornam líderes à força. Se não mudarmos o modelo de comportamento que praticamos nunca poderemos ser humanos de verdade, seremos sempre animais.
Professores no Congresso, tratados como boias frias para poder comer o prato de comida pago na inscrição para participar desse evento, tendo que ficar horas antes da abertura do bandejão, e eles sabendo que isso seria necessário para comer a tempo de não se sentir mal, deixavam as palestras, foco do congresso, com prazer para ir para a fila em caracol, sem se preocupar em assistir até o final. Professores saindo mais cedo e preocupados apenas com questões funcionais e não com as pautas e a possibilidade de formação contínua...
   Pego a pensar-me: que modelo é esse?
   Somos tratados como animais, e devemos agir como humanos, mas sabemos que somos animais e apenas tentamos parecer humanos. Isso sim é o modelo que seguimos: o da força, mesmo que convertida em dinheiro.
   Quem tem a força, nobre padawan? Há um problema nessa distribuição aí!

Nenhum comentário:

Postar um comentário