Por Laura Lucy Dias
Primeiramente, gostaria de contextualizar esse texto: sete
de novembro de dois mil e doze, Palácio das confederações, Anhembi, São Paulo,
Capital. Evento: vigésimo terceiro congresso do SIMPEEM. O que isso significa?
R: 95% de professores, sendo deles 80% regentes 20% de coordenadores, diretores de escola e
supervisores escolares. Os outros 5% tem como representantes os ATES (pessoas
que exercem outras funções dentro da escola/educação).
Contextualizados? Caso não esteja, tudo bem, a minha análise aplica-se a outros contextos
também.
Ontem, no Painel, tivemos uma palestrante que falou sobre neurociência
e desenvolvimento da aprendizagem nas diversas fazes da vida, pensando em
maturação (maturidade física e psicológica para o desenvolvimento de certas
habilidades e capacidades de aprender coisas). Aos quarenta anos começamos o
processo de perda de neurônios, de maneira natural, conforme a palestrante. Mas
o que me faz escrever é a afirmação feita por ela:
“O ser humano se constitui a partir da interação com o outro”
Agora vou falar de maneira leiga, apenas utilizando as
minhas impressões pessoais e conhecimento de cunho crítico e de senso comum.
Sinto-me estranha justificando-me antes de falar, mas quero pôr – me como uma narradora
em terceira pessoa e intrusa, como se fosse onipresente, só por ser a que detém
a sua atenção e nada mais.
Pensando na afirmação, podemos dizer que se eu nasço em um
ambiente que seja como o dos mórmons, e eles estão completamente desconectados
das leis e tecnologias do mundo à sua volta – como naquele filme “A
Vila”- completamente alheios e desconhecendo-o por gerações, a ponto de que
conseguiram essa individualidade de grupo para seus descendentes, eu terei o
conceito de humanidade da interação que eu vier a ter dentro desse grupo.
Digamos que oito gerações depois daquela apresentada no
filme, sem seus anciãos iniciais e os que tiveram contato com suas histórias e
relações com o mundo exterior.
Eu não conheceria a internet, estradas asfaltadas,
instituições como bancos, etc. Ao ser exposta à esta outra realidade, eu
interagiria e seria capaz de tornar-me este tipo de humana? Seria um híbrido de
formação mista?
Opto pela hipótese do híbrido. Nesta eu manteria as
características humanas e sociais originais e agregaria as outras em uma
acomodação da nova experiência e da forma que eu vier a me relacionar com ela.
Ok... se eu posso fazer tudo isso eu sou humana, pois ajo em
grupo. Deixemos claro que eu não faço parte desse mundo científico e é só uma
reflexão de uma leiga que quer criticar a maneira como se dá a socialização.
Vejamos os macacos, os cães, os lobos, os peixes... todos
vivem em grupo e agem em grupo. Não vejo diferença neles do que o que acabei de
descrever aqui. Se eu pego um macaco e insiro-o em outro grupo, ele irá
trabalhar para se integrar agindo em grupo e podendo se adequar à sua nova
situação. Nada diferente de mórmons para hi
tech.
Pois bem, se nós aprendemos com o outro, aprendemos desde
criança, e Vygotsky
e Piaget
já falaram de aprender através do meio, de dentro para fora e tal. Isso
acontece com cada espécie dentro das suas condições de evolução.
Você pensa que falar para o seu filho não atravessar fora da
faixa, olhar para os lados quando atravessar a rua, não mentir, etc, vai
educá-lo e ensinar algo que ele possa praticar na sociedade em que se insere?
Esqueça-se disso. Nem depois dos quarenta adianta, nós
aprendemos como os macacos, os cães e tudo mais. Só para você ter uma ideia,
minha cadelinha de quatro meses vê-me aplicar hidratante labial constantemente,
devido a problemas de ressecamento que eu sofro, e ela observava-me e eu não
percebi. Um dia ela conseguiu pegar e comer o meu hidratante labial. Apesar de
irada, procurei saber o motivo do interesse e passei a observar seu
comportamento, ela seguia meus movimentos com o olhar e percebia o que eu fazia
com o objeto e onde eu o colocava e depois ia para a empreitada de tentar
adquirir o objeto.
Tudo isso revela a necessidade de ela adquirir o
comportamento daquele com quem ela disputa a liderança da matilha. Ela precisa
se apoderar das coisas que importam, e eu estou sempre com o objeto ali, junto
a mim. Ela observa e aprende o que o grupo faz e procura seguir modelos para conseguir
a posição que lhe seja mais almejada, como a de líder da matilha humana que é a
minha família.
É nesse ponto que eu quero discursar. Aprendemos mais com
atitudes que com palavras. Identificamos os líderes da nossa sociedade e
procuramos reproduzir o modelo de comportamento daqueles que aspiramos ser, ou
substituir. Nossas crianças e nossos quarentões são frutos do grupo e se tornam
humanos por isso?
Neurocientificamente sim, segundo a palestrante. Mas
filosoficamente... complexo. A partir do momento em que aprendemos como animais
e vivemos como seres humanos racionais, mas passamos o farol vermelho e
criticamos, recomendamos ou até punimos o outro que também o faz, qual será a
vantagem de ser humano?
Carros de polícia que passam farol vermelho, políticos que
roubam, traficantes que se tornam líderes à força. Se não mudarmos o modelo de
comportamento que praticamos nunca poderemos ser humanos de verdade, seremos
sempre animais.
Professores no Congresso, tratados como boias frias para
poder comer o prato de comida pago na inscrição para participar desse evento,
tendo que ficar horas antes da abertura do bandejão, e eles sabendo que isso
seria necessário para comer a tempo de não se sentir mal, deixavam as
palestras, foco do congresso, com prazer para ir para a fila em caracol, sem se
preocupar em assistir até o final. Professores saindo mais cedo e preocupados apenas
com questões funcionais e não com as pautas e a possibilidade de formação
contínua...
Pego a pensar-me: que modelo é esse?
Somos tratados como animais, e devemos agir como humanos,
mas sabemos que somos animais e apenas tentamos parecer humanos. Isso sim é o
modelo que seguimos: o da força, mesmo que convertida em dinheiro.
Quem tem a força, nobre padawan? Há um problema nessa distribuição aí!
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