segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Rivalidade cooperativa



  Por Laura Lucy Dias

Retirado desse link
   Ontem perguntei ao meu marido: "Como está se sentindo?", depois de o Corinthians ganhar o mundial. Ele disse que não gostou, desconversou. Perguntou o que eu estava sentindo, e eu disse que estava feliz pela conquista deles. Ele não gostou "mais ainda".
   Ele é São Paulino e ficamos felizes, essa semana, com o título deles. Porém eu não gosto de futebol, e vinha perguntando à ele o motivo de todos os que não são corintianos não torcerem por eles (os que eu sabia que faziam isso), já que estavam representando o nosso país nesse campeonato, eu apenas queria tentar entender. 
   Pensei depois: "Ah, eu não devo entender por não gostar de futebol.", até que hoje eu abri o Facebook e me deparei com o comentário de um grande amigo, São Paulino, que vinha fazendo campanha por seu time até a vitória sobre os tigres: " Bom, futebol é isso: parabéns ao Corinthians, campeão mundial. Chelsea, recolha-se a sua baixeza e nunca mais elimine o Barcelona de nenhum torneio europeu.". Não havia reparado que ele não fizera campanha contra o time rival.
   Eu li isso e pensei em vir escrever, enquanto a TV estava ligada no Mais Você. O Loro José com toda a parafernália preta e branca, a Ana de roupas de apresentadora, nada de fantasias. Começaram a falar sobre a vitória e ela disse: "Como palmeirense que sou, posso dizer que tenho orgulho do Corinthians". 
   Nesse ponto eu parei para pensar novamente: "Opa, eu não tenho rivalidade com time algum, e sinto-me feliz com o título deles. A Ana Maria é palmeirense... meu amigo não disse estar feliz, mas não demonstrou estar com raiva.". Pois é, não é necessário sentir raiva do time campeão, só por que não é o seu. 
   Em uma dessas vezes que perguntei sobre a torcida contra, meu amado respondeu-me que se fosse o Santos, ele torceria a favor. Então, o problema era o time que estava lá.  Acho que o fato de torcer contra é o senso comum de se ter um inimigo específico, que faça a gente extravasar a raiva e que vista a camisa de todos os males sociais, e tal. Eleito o Corinthians aqui em São Paulo. Então a cultura de torcer contra é uma escolha que está arraigada no inconsciente coletivo e é promulgada de geração a geração.
   Todos os times têm uma característica que faz a sua imagem, pelos seus rivais. O Corinthians é de maloqueiro e bandido. Meu pai não é maloqueiro, os professores que trabalham comigo também não. Meu... fiquei encantada com uma reportagem do Bem Estar, que entrevistava corintianos após o gol. Um deles respondeu que para ele essa vitória era uma CATARSE. Meus olhos brilharam, e então, há cultura na cabeça deles.
   Meu marido não é homossexual, nem os professores da escola ou meu amigo... apenas há um time que agrada àqueles que têm uma formação mais adequada, e por ser aparentemente elitista, é apreciado por aqueles que tem este perfil, ou busca essa posição social.
   Acho que no fim das contas, a herança de intolerância dentro desse esporte continua me mantendo afastada. Se eu fosse torcer por algum time, seria por aqueles europeus que têm modelos e "pensadores", homens formados e que sabem dar entrevistas, em vez de homens que nem pensam em estudar até o Ensino Médio, mal sabem falar e, ainda por cima, são quase interessantes... 
   Acho que aqui sobra futebol e agilidade, malandragem e superestimação daquelas pessoas que ganham saindo do fundo do poço, mas sem esforço maior de subir de maneira qualitativa, apenas quantitativa.  .
   Não entendo a rivalidade a qualquer custo, não apoio a rivalidade a qualquer custo. Quero que as próximas gerações sejam solidárias e saibam praticar esportes e torcer apenas pelo esporte, sem pensar em "critérios sociais" para que se faça isso. Pobres, brancos, homossexuais e mulheres deveriam ter  prazer de jogar e celebrar o campeão. Aqueles que estão ao lado do time vencedor devem ter o direito de comemorar a sua vitória, e aqueles que não estão do lado do que levantou o troféu devem poder olhar e compreender, parabenizar e não achar que a vitória do outro lhe faz um perdedor.
   Pessoal, isso é SÓ futebol!

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