quarta-feira, 24 de agosto de 2016

É de satanás

24/8/2014



O último nome que eu ouvi para este ser foi Capiroto. Você o conhece? Pois bem, Maria era uma menina que gostava muito de passear pelo bosque perto de sua casa, e passava as tardes por lá, mas nunca se deixava por lá até o escurecer, pois, dizem que aquele lugar era mal-assombrado. Bem, mal-assombrado era pouco, pois na verdade era a casa do Cão.
Como ele passava os dias a preambular pela cidade, o demônio voltava para a sua casa à noite. Você deve se perguntar o motivo de o Anticristo morar em um bosque específico, sendo que ele é o Rei do inferno, e deveria ficar por lá. Bem, na verdade ele tem muitas moradas, e não está em um lugar único ele paira e vive em muitos lugares e a sua materialização acontece sempre de acordo com as crenças e costumes do lugar.
Maria era simplesmente uma das descendentes mais antigas daquela região. Seu sangue era virginal e puro, trazendo muitas ligações com a era do culto ao Diabo. Maria era descendente de bruxas, e havia ainda bruxas que moravam ali, no vilarejo ao entrono do bosque, mas ninguém além delas sabia.
Por ser muito jovem a menina ainda não havia sido iniciada em seu mundo, mas sua família a preparava indiretamente. O tinhoso estava ali sempre para apreciar as oferendas e os cultos das bruxas de Sleepy Hollow. Claramente o chifrudo tinha um gosto pelas tradições antigas.
Nessa noite de lua cheia era o Sabbath, e Maria estava passeando pela floresta à tarde quando viu um vulto na floresta, como estava cedo, imaginou que fossem mantes passeando para namorar e espreitou pelas folhas, mas não conseguia alcançar Lúcifer. Ela acompanhou o quanto pode e percebeu que aquele lugar onde estava não era conhecido. Houve uma repentina escuridão e ela não sabia que estava ultrapassando o portal dos mundos, que Mefistófeles acabara de abrir. Como eu disse, era a noite do Sabbath, o dia em que os mortos andam pela terra entre os homens.
Estavam empolvorosos e nem perceberam a criança. Havia um cheiro putrefato no ar, cheio de enxofre e cor de azeviche. Esqueletos e corpos que estavam em decomposição, fantasmas, entes queridos que ela não conhecia daquela maneira, todos pareciam fantasiados e ela parecia uma fantasia.
Se abaixou e enquanto saiam os mortos a sua vida entrava diretamente para aquele lugar por sob as pernas dos seres que lá residiam. Tudo ia ficando quente e sua pele ardia de dentro para fora. Era como se seu corpo expulsasse a vida de dentro dela. Repentinamente ela começou a brilhar e tudo se iluminou, havia restos mortais por todos os lados, e um abismo onde ela quase se precipitara na escuridão.
Havia gritos de horror, havia sangue nas árvores que estavam em sua volta, havia ... havia... havia a sua família! Sua mãe, suas irmãs, muitas mulheres que ela via no dia a dia, estavam todas... mortas?
Coisa-Ruim, sem mais nem menos agarrou Maria pelos braços. A menina gritou e se debateu, Satã rugiu para ela e mostrou sua face horrenda, ela desmaiou e ele a pegou nos braços, e foi quando todas as outras mulheres, no plano terreno, puderam ver a menina pairando no meio do círculo que formavam, ela estava sobre a fogueira.
O Solstício de verão acabou, amanheceu um dia ensolarado e belo, Maria acordou nua no meio da floresta, correu para a sua casa e disse aos seus pais que havia estado no inferno e que Satanás a tinha sequestrado. Contou tudo o que aconteceu, quem vu em volta da fogueira e chorou muito, sua mãe lhe disse:
- Maria, acalme-se, você estava dormindo e teve um pesadelo, vá já para o seu quarto.
A irmã de Maria virou-se para a mãe e disse:
- Então ela é a escolhida?

- Sim, é ela.
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Sempre do ponto de vista de crianças, suas protagonistas, os contos da Obra Perturbadora pretendem mexer com seu leitor, trazendo experiências de leitura com finais abertos e incongruências propositais, que podem até parecer em primeiro momento uma falha da autora, porém, o resultado no leitor é, em geral, atingido e previsto durante a sua produção.
Prepare-se para sentir estranheza, insegurança, suspense, violência, e principalmente a expectativa que traz a melhor sensação do suspense. A autora busca em alguns contos contextualizar o seu leitor para depois apresentar um desfecho incongruente ou violento, ou de uma forma muito distinta não contextualiza o leitor e dá toda a situação ocorrida e o que se espera é que a experiência do leitor trabalhe com as questões que surgem, de forma a trazer à tona a própria identidade do leitor, seja instigando-o a buscar respostas que não terá, a se revoltar com a falta de informação desejada ou a lidar com o prazer da sensação atingida na leitura. Que tipo de leitor é você? Um detetive, que quanto mais instigado mais busca saber? Um frustrado que para a leitura por não aceitar o jogo da autora? Um imaginativo que complementa as histórias com as possibilidades e se delicia, seja com o contexto que lhe é cobrado ou com o desfecho que é incongruente?
Descubra-se lendo a Obra Perturbadora, contos curtos e rápido de terror, mistério e suspense que trazem desde os mais clássicos terrores psicológicos até os mais modernos, influenciados por Edgar Alan Poe, Stephen King, Lovercraft, entre outros, além de o cinema do século XX e XXI.

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