17.7.2016
Se há algo que posso garantir a você
é que desde a minha mais tenra adolescência, com todas as minhas dificuldades
de entendimento da linguagem comum dessa geração que participei, e suas formas
de agir também, dificultando muito o meu acesso a ela e dando-me status de
esquisita é que eu sempre tive muita facilidade para montar imagens mentais.
Sim, isso mesmo. Parece estranho, mas pense, quando falamos coisas e
descrevemos coisas, quando contamos piadas – como a do dedo sangrento, lembra
Cleide? – a nossa cabeça recebe uma carga visual da oralidade que é a pessoa
falando para você daquilo, e não aquilo que realmente está falando está
acontecendo. É nesse momento que a minha cabeçona liberta-se e corre para criar
imagens mentais que cumpram com aquelas tarefas visuais, acompanhando a
narração oral que recebo.
Você pode ver que depois, nessa
mesma época usei dessa capacidade para criar imagens poéticas as vezes pedantes
noutras bonitas, todas hiperbólicas, mas que conseguem atingir muito do público
em relação ao que pretendia desenhar na cabeça deles. Me senti a vontade para
fazer isso na poesia, pois as pessoas faziam isso comigo diariamente, sem
dificuldade, me forçando às incongruências que encontrei no meu desenvolvimento
psico-social e emocional.
Conhece Douglas Adams foi encontrar
uma alma gêmea. Ele além de colocar imagens na minha cabeça, falava das imagens
da cabeça dele em seus livros, e para tentar fazer isso ser mais didaticamente ridículo
ainda usou em sua trilogia de cinco que tanto amo uma enciclopédia para guiar
os mochileiros pela galáxia. Até então não havia me dado conta de que isso era
algo comum. Claramente eu era uma ridícula que acreditava que poucos podem
entender o que ele escreve, e na verdade.... entender como eu entendo é a pura
verdade, mas você sabe que todos podem entender.

Na introdução Stephen Fry diz:
“Quando você vê uma ilustração de
William Blake, ouve Bach, lê Douglas Adams ou assiste a uma apresentação de
Eddie Izzard, tem a impressão de que talvez seja a única pessoa da face da
Terra que os entende de verdade. [...] Quando você lÊ uma frase especialmente
brilhante de Adams, sua vontade é cutucar o ombro do estranho mais próximo e
mostrar para ele. O estranho pode até rir e parecer gostar do que está escrito,
mas você se agarra À ideia de que ele não entendeu exatamente a força e a
qualidade do texto, não tanto quanto você – da mesma forma que seus amigos não
se apaixonam (graças a Deus) pela pessoa sobre a qual vocE não para de falar um
minuto.”
Pois é, é muito bom se identificar
individualmente com um cara como o Douglas Adams, homem que é minha alma gêmea,
mas não me conheceu. Se me conhecesse, talvez eu fosse outra pessoa, mas sabe o
que é melhor? Ele é e pronto, indiferente da sua certeza, ah, e ele é a alma gêmea
de um monte de leitor por aí, pode crer.
Entrar nesse universo das cartas que
iniciam o capítulo VIDA foi um gozo que poucos amantes me causam, só posso
falar publicamente dos senhores Machado de Assis, Edgar Alan Poe e Lygia
Fagundes Telles por enquanto. Há muito mais gozos, mas estes conseguem
frequentemente... não se esqueçam do Stephen King!
Encontrei um ponto de identidade com
ele na carta inicial, na qual ele tinha só 12 anos, e é bem a minha idade em
relação a uma das identidades ligadas a questão desta identificação que tive
com ele: aos doze ele conhecia Beatles, mas não sabia que o mundo feito de
shows era possível, e por isso não foi a nenhum show dos Beatles, pois não saia
que podia ir. Eu não sabia que podia ir à biblioteca e tirei nota vermelha por
não ler o pequeno príncipe. Ah, como é difícil ser criança e não saber de
coisas importantes para nós e que ninguém nos diz por ser tão obvias que só os muito
apaixonados ou necessitados (meu caso) não veem.
![]() |
Douglas Adams e seu monumental nariz |
Depois ele vem, em outra carta, e
fala do seu nariz. Parece constranger-me: “como ele sabia que eu acho o nariz
dele enorme?”, mas ele sabia! E ele conta as suas mazelas nasais e diz que com
toda aquela realeza de narinas ele não conseguia respirar. Não darei spoiler,
mas ele me vez ver essa cena: “vários otorrinolaringologistas embarcaram em
grandes expedições espeleológicas pelas minhas cavidades nasais e a maioria
voltou perplexa. Os que não voltaram perplexos nunca voltaram, portanto são
parte do problema, não da solução”. Cara, cara, num dá, estou rindo de
madrugada imaginando os otorrinolaringologistas encaveirados nos túneis dessas
narinas, tipo Indiana Jones, impedindo a passagem de ar que ainda era feita
antes de sua incursão narina adentro. Obrigada Douglas Adams, vc é um maldito
rato e eu não passo se um golfinho, é duro dar Adeus, mas obrigada pelos
peixes!
PS: vc comprou o seu livro? Se já comprou, onde foi? Em uma loja virtual ou física? Eu procurei em várias das físicas na época do pré-lançamento. Recomendo que quem ainda não comprou vá procurar antes em loja física e viva a experiencia de não ser nada entendido pelos vendedores comuns, e constrangedor. Para mim isso é como uma homenagem a ele, que pensou nesse nome para causar essa estranheza (incongruência) e levar-nos para além de nos divertir.
PS: vc comprou o seu livro? Se já comprou, onde foi? Em uma loja virtual ou física? Eu procurei em várias das físicas na época do pré-lançamento. Recomendo que quem ainda não comprou vá procurar antes em loja física e viva a experiencia de não ser nada entendido pelos vendedores comuns, e constrangedor. Para mim isso é como uma homenagem a ele, que pensou nesse nome para causar essa estranheza (incongruência) e levar-nos para além de nos divertir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário