quinta-feira, 17 de julho de 2014

Mulherada



Um conto, que acabei de escrever, hoje, dia 16/7/2014, 22h, para o livro Alterada (o da capa em construção - sendo pintada) para vocês degustarem. O livro será polêmico. Este tema é bastante em si, mas é o menor conto até agora!

 
Capa em andamento

“Não se nasce mulher, torna-se”, quem disse foi Simone de Beauvoir.
Isso deve fazer mais sentido para mim que para qualquer mulher. Não que eu seja mais mulher que elas, mas... o meu tornar-se mulher foi muito mais complexo que para qualquer mulher.
Que seja. Eu ainda guardo um pênis, que não é nada freudiano, não estou esperando nada crescer. Na verdade ele nunca deveria ter estado ali, pois tornei-me mulher. A situação está crítica hoje, pois estou muito perto de conseguir o dinheiro para fazer a operação para a troca de sexo.
Estou juntando desde os doze anos. Hoje tenho 26. Visto-me como a mulher que sou, não tenho orgulho deste órgão que carrego e se pudesse nem mesmo o usaria para tornar-me mulher em definitivo, preferiria uma prótese.
Sou mulher em definitivo, mas falar contigo está me deixando confusa em relação a tempo e espaço. Nasci e um anjo torto mandou-me ser gauche na vida. Cá estou, danado Drummond.
Sou especialmente bonita por tomar meus hormônios adequadamente, e os traços que deveriam ser masculinos acabaram por valorizar-me. Por sorte não sou alta, vejo tantas amigas que são tão ou mais mulheres que eu e são altas. É um caso para se escrever.
Mesmo com um pênis, muitas vezes consigo mais casos e namorados que estas. Os homens têm mais medo de mulheres altas que as que tem pênis.
Isso deve acontecer por um motivo que eu acho notável e quase ninguém pensa nisso! O fato é que todos nós deveríamos ser bissexuais. Simples assim. Não haveria problemas em relação ao que fazer e com quem, pois todos faríamos com quem bem entendêssemos.
Abaixo ao bom selvagem e seu descobridor. Uma nação global.
Tudo está errado. Não falarei de tudo o que sofri até aqui, é mais do mesmo, e bah, não quero fazer ninguém chorar. Quero apoiar, todas as mulheres. TODAS AS MULHERES.
O mundo não é feito pra nós, ele é feito para guerra. Ele é feito para sofrer e abusar do mais fraco. Operar-me não será um problema, tenho medo sim, mas de fato... o que me deixa mais triste é saber que mesmo sendo decidida, talvez eu tenha problemas sérios com isso. Problemas de ser tratada como uma mulher é tratada em nossa sociedade.
Sem dó e nem piedade, para o restante de minha vida. Quando eu era um rapaz, até os 12 anos, mesmo sendo uma mentira, mesmo atuando como qualquer um, eu era considerado. Eu acontecia.
Agora sou gênero feminino, isso é um avanço, ao menos nós estamos nos unindo na categoria certa. Quem sabe o que virá depois da operação mental de desintoxicação do machismo e patriarcado que tanto aguardo? Isso podia ser retirado com bisturi também, é o que eu acho... e de qualquer um.

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