quarta-feira, 20 de março de 2013

Quem se importa em agradar a todos?

          Ela acabava de entrar no ensino médio , chamado de colegial no fim da década de 90 sua melhor amiga conseguira um emprego e mudava para o horário noturno. Foi este o argumento que usou para convencer a mãe para mudar seu horário também.
          Ao saírem as listas, descobriu que não conseguiu se encaixar na turma da amiga. Como seria a sua turma? Quais seriam suas matérias? Ela senti-se adulta só por estudar a noite e poder procurar emprego.
          Qual não foi a sua surpresa ao perceber que sua turma era forma por pessoas mais velhas, e ela - aos 15 anos - era a mais jovem de todos! Sentiu-se perdida até que a rotina se fez e ela conseguiu muitos e bons amigos, assim como tinha uma boa relação com o restante da sala.
          Ela era bonita, magra, baixa, cabelos encaracolados e esvoaçantes. Na verdade ela toda esvoaçante, divertida, desbocada, ingenua, encantadora, magra, jovem, dedicada... ela se sentia bem naquele ambiente. Era paquerada, arranjou uns dois ou três casos dentro da escola, mas nada de namorar. Par ela, do ponto de vista dela, tudo se encaminhava muito bem.
          Mas isso tudo fazia parte do seu mundo fantástico, nada mais, porém em seu oposto, quando se pensava em Regina, obscurecida sob a luz da colega mais jovem, não se via as coisas como Leila via. Regina era noiva, trabalhava, sossegada, usava cabelos channel e não era nem gorda e nem magra. Mal sabiam os outros o quanto ela poderia guardar de amargura e acidez, ela não parecia com isso.
          As aulas que faziam Leila feliz eram as de psicologia e língua portuguesa. Porém ela percebera que sua maneira juvenil, quase infantil, destoava do grupo e deixava aquele professor exasperado. Em uma aula qualquer, próximo ao fim do segundo semestre, ele resolveu aplicar uma atividade que levava um aluno a escrever sobre outro que ele escolhia, qualquer que se tivesse do outro, mesmo que se relacionassem de forma superficial um com o outro. Cada um teria que escrever sobre um outro que ele escolhesse e vice-versa.
          Adivinha quem teria que analiasar quem? Leila e Regina, uma à outra. Leila nunca parara para observar atentamente a outra garota , e por isso não teve muito o que dizer dela: A Regina é uma garota séria, que parece ser estudiosa  dedicada. Leila teve que ler o que escreveu primeiro, todos leriam suas observações em alto e bom som.
          Logo em seguida Regina apresentou sua descrição de Leila: Ela é egocêntrica e mal educada, se acha a tal, e... neste ponto o estômago de Leila se contraiu e ela só pode abaixar a cabeça e ouvir aquela descrição que a maltratava e sem reação apenas corroía por dentro e murchava, pareceu uma eternidade.
          o professor, com toda sua sensibilidade de psicólogo frustrado, ao termino da leitura, apenas perguntou a turma:
          -   Alguém concorda com a Leila? - silêncio - E com a Regina? - nenhuma resposta.
          Leila não fez nada , mas aquilo a atingiu profundamente , ela simplesmente abaixou a cabeça e não conseguiu processar nada. Sua cabeça era um turbilhão , mas nada a encítou a violência que ela deveria ter cometido , pois ela não fora criada dessa forma, era ingenua demais.
          De qualquer forma, passaram-se os dias, o brilho de Leila modificou-se, mas aos poucos ela deixou a tristeza passa afinal ninguém a conhecia profundamente. Ela também não conhecia Regina , muito mesmo profundamente.
          Cada uma passou o restante do ano sem buscar se conhecer, mesmo depois de Regina se desculpar. Apenas desculpou-se pela exposição não por sua opinião.
          Apesar disso parecer ruim, foi algo bom para a Leila, pois ela aprendeu que o mundo tem gente que serve e gente que não serve para conviver com ela, e comprometeu-se consigo a nunca ficar chateada por não conseguir agradar a todos. 

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