sábado, 9 de janeiro de 2016

A incongruência

   Acreditar em mim é um processo árduo, não engane-se com o mesmo que "botar fé em mim", que é outro ponto a ser trabalhado... talvez mais simples do que eu acreditar de forma mais crua: a de por crédito em mim.
    Não não é a mesma coisa, eu já disse, sobre ter fé em mim, sem problemas, pois isso eu faço apesar das restrições que a especialização supera. Entende? Se eu tenho limite eu acredito que eu possa superá-lo por ser alguém capaz de  especializar-me com prática, análise, estudos, orientações, pesquisas etc.
    Porém quando precisa acreditar no que vejo, no que sei, no que percebo e na minha condição de indivíduo acima do comunitário e bem estar do outro...  até arde quando tento acreditar em mim ao invés de no outro que me diz que estou errada, mesmo que argumente muito bem e eu saiba que não estou entrando em um processo ardido, como o de miragem, e parece que minha cabeça se expande em uma dúvida eu devo retomar a verdade, que não é mais a minha, com muito cuidado para não ofender o outro caso seja só um disparate meu, e é nesse momento em que meu corpo para no tempo e espaço enquanto deixa de existir, carbonizado e sem ar até convencer-me de que eu estava errada mesmo. Isso traz uma leve depressão, e como eu posso duvidar de pessoas tão idôneas, que mal elas podem me causar? Ou melhor, porque desejariam tal coisa? Isso é muito estranho.
    Dessa maneira, geralmente tirou meu crédito de mim mesma e dou ao outro, minha realidade perde o sentido e quase me sinto grata por me ditarem a verdade, sinto-me mais segura com o ditador do que comigo mesma.
    Isso tudo acontece ainda hoje, mas eu evolui, meus ditadores têm precisado mudar as estratégias que já eram receitinhas fáceis e quando repetem a estratégia, instintivamente consigo perceber uma incongruência na miragem e é como se a miragem fosse um holograma alimentado pelo calor físico da culpa, da minha culpa. É nesse instante que o Dejavu da técnica vem esclarecido como um misticismo, uma visão de um homem em uma cena trivial de faroeste, prestes a pegar a arma no codre, mas... não há uma arma de verdade, é uma arma metafísica.

   Ver a incongruência tem se tornando possível devido ao fato de que passei a dar crédito a mim. Não é algo imediato, está mais perto da perturbação ou confusão religiosa de uma visão do desconhecido que de um insight da verdade. Eeu acordo e paro de fugir do ardor, e ainda assim não tenho me carbonizado, ou acabado carbonizada. Não cedo ao restante da miragem criada pelo  outro devido à incongruência. Hoje, a incongruência na miragem é a pista para me ajudar a mudar de rumo, do processo de seguir o ditador. Eu credito a mim o poder de ser eu e ter a minha realidade e o questiono, mesmo que internamente.
    A realidade de fato é a miragem, que é muito difícil de entender, para mim,  já que o ditador não me fala suas intenções, o que acontece aqui entra na minha cabeça e me causa uma crise de ansiedade e eu não a superava, por ser mais fácil carbonizava-me em análise, pesquisa, orientações e o que pudesse, num processo contrário ao da aceitação da miragem e aceitação da realidade que eu conheço. 
   Aceitar a realidade é viver sozinho em um deserto que se localiza onde havia um ditador numa sala escura e quente e agora há apenas um fascista diante de você. É solitário e tragicômico acreditar em mim, não tem sido como conhecer a verdade e sim, tem sido reconhecer manipulações maldosas de pessoas em quem confio e a quem me dedico, tem sido lidar com a vontade do outro que não é a minha e a desfrutar da difícil tarefa de não fazer as coisas pelo outro só porque não me custa, pois custa sim, é uma via de mão única com pregos no asfalto e sem saída, apenas um continuar a fazer sem parar parar de ser uma boa menina

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